Questão pessoal
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Folha de S.PauloFolha de S.Paulo, 23/09/2005
PAINEL – Questão pessoal
É tão ruim a relação entre Chinaglia e o líder do PSB, Beto Albuquerque (RS), que a candidatura do segundo parecia ter como único objetivo inviabilizar a a do primeiro, agora morta.
Chinaglia retira candidatura e PT apóia Aldo
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CÂMARA NO ESCURO
Candidatura de petista foi bombardeada até por aliados ao longo do dia, ontem; sucessão de Severino Cavalcanti fica embaralhada
Durou 23 horas a candidatura do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Casa. Bombardeado dentro da base aliada, ele abriu mão ontem à noite em favor do ex-ministro da Articulação Política Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Coordenador político da maior derrota sofrida pelo governo na Câmara, a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE), Aldo agora é candidato ao mesmo posto. O PT, com 88 deputados, não terá postulante, ignorando mais uma vez a tradição de que o maior partido teria a prerrogativa de indicar o presidente.
A expectativa dos líderes da base governista é que Aldo aglutine outros apoios, coisa de que Chinaglia se mostrou incapaz.
Por enquanto, ele tem a seu lado PT, PC do B e PSB, que somam 118 dos 513 deputados. Ontem, além de Chinaglia, Beto Albuquerque (PSB-RS) desistiu da candidatura e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Eduardo Campos (PSDB-PE), antes cogitado, deixa de ser uma alternativa.
Presentes à reunião que fechou acordo em torno de Aldo, representantes do PL, do PP e do PMDB ficaram de levar às suas bancadas a proposta de apoiá-lo.
Assim, eles esperam que desistam da candidatura os deputados Michel Temer (PMDB-SP), Francisco Dornelles (PP-RJ) e João Caldas (PL-AL). O PMDB agora é o maior alvo da cobiça dos aliados, pois tem 87 deputados.
O PT resistiu a uma articulação do Palácio do Planalto para fechar com o peemedebista Temer, escolhido candidato anteontem pela bancada do PMDB. O PT queria um compromisso de todo o PMDB para apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eventual candidatura à reeleição em 2006, além de fechar alianças em alguns Estados.
Candidatos
Foi exigência para melar um eventual entendimento, pois nem a ala governista está disposta a apoiar Lula no cenário atual, no qual perdeu cacife político por causa da crise do "mensalão". Para complicar, ainda há um quadro confuso na Câmara, com diversas candidaturas, algumas oficializadas, outras não.
De acordo com os cálculos dos governistas, restariam apenas o candidato das oposições (150 deputados), José Thomaz Nonô (PFL-AL), Ciro Nogueira (PP-PI), representante do "baixo clero" e herdeiro do espólio de Severino, o petebista Luiz Antônio Fleury (SP), que concorre para reerguer seu partido, e os "nanicos" Alceu Collares (PDT-RS) e Jair Bolsonaro (PP-RJ).
"Tomei a decisão de retirar o meu nome para que a base aliada se unifique em torno do nome que julgar mais apropriado", afirmou Arlindo Chinaglia.
De acordo com ele, a saída do páreo foi precipitada pela urgência em começar a campanha. A eleição está marcada para a próxima quarta-feira.
"Sou líder do governo e tenho a responsabilidade de conduzir esse conjunto para uma única candidatura, porque não temos tanto tempo", disse o Chinaglia.
Aldo disse que os petistas tiveram um gesto de desprendimento. "Foi um gesto de elevada compreensão do momento político do país e da Câmara dos Deputados, coerente, na busca da mais ampla unidade para fazer com que a Casa cumpra seu papel político, social e institucional."
Cara do governo
A decisão de rifar Chinaglia e ungir Aldo foi amadurecida em várias reuniões durante o dia. No meio da tarde, já estava evidente que o petista não reunia condições políticas para agregar apoios além de seu partido. O deputado, na avaliação da base aliada, é bom articulador e um nome respeitado, mas tem um defeito de origem: é a cara do governo.
"O Chinaglia tem dificuldade de unir a base aliada, por ser do PT e líder do governo. A candidatura dele polariza demais com a oposição, e isso é um risco", dizia Renato Casagrande (PSB-ES).
No final da tarde, reuniram-se Chinaglia, Aldo e os líderes do PT, Henrique Fontana (RS), e do PC do B, Renildo Calheiros (PE). Chegaram à conclusão de que o tempo passava, a candidatura de Nonô crescia e Chinaglia não empolgava. Chamaram em seguida Caldas, Casagrande, os peemedebistas Wilson Santiago (PB) e Geddel Vieira Lima (BA) e o pepista Agnaldo Muniz (RO) para comunicar o apoio a Aldo.
Considerado um bom articulador, de fala mansa e paciente, Aldo, apesar de ter sido ministro, não carregaria o carimbo de "governista" tanto quanto Chinaglia. E, mais importante, não é do PT, mergulhado na crise. Sua legenda tem apenas nove deputados.
"O governo mostra que quer colocar um fiel aliado, um articulador político, no comando da Câmara, assim como era o caso de Chinaglia. Não diferencio entre os dois", disse o líder da oposição, José Carlos Aleluia (PFL-BA).
PT compreendeu momento político, diz Aldo
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CÂMARA NO ESCURO
Ex-ministro não participou da reunião em que foi escolhido representante da base governista na disputa pela presidência da Câmara
Aldo Rebelo, 49, não participou da reunião em que seu nome foi alçado à condição de candidato governista à presidência da Câmara. Já sabendo do resultado, o deputado refugiou-se no gabinete de Beto Albuquerque (PSB-RS) para fugir da imprensa.
Na saída, em rápida entrevista à Folha, disse que o PT fez um gesto "de elevada compreensão do momento político" e minimizou a importância do fato de ter sido o coordenador político do governo na época da malfadada candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) à presidência da Câmara, em fevereiro.
Folha – Como o sr. classifica a decisão do PT de apoiá-lo?
Aldo Rebelo – Foi um gesto de elevada compreensão do momento político, do país, e da Câmara dos Deputados.
Folha – O fato de o sr. ter sido o coordenador político do governo, inclusive durante a derrota de Greenhalgh, não o atrapalhará?
Aldo – Não posso fazer esse julgamento. Não sei até que ponto o fato de alguém ter sido do governo ou da oposição deve influenciar na decisão dos deputados. (…) Acredito nos partidos, na instituição, e no meu trabalho. A vitória e a derrota são sempre contingências dessas circunstâncias.
Folha – Que apoios o sr. buscará?
Aldo – Tenho conversado com o presidente [do PMDB] Michel Temer e com lideranças de todos os partidos.
Folha – Se o sr. vencer, o presidente da Câmara virá de uma das menores bancadas da Casa. O sr. acha isso justo?
Aldo – O fato de o país viver em um regime democrático permite que todos os partidos que integram o Congresso tenham, dentro da legitimidade conferida pela democracia, a possibilidade de acesso a qualquer posição.
Folha – Como o sr. avalia a possibilidade de presidir a sessão que irá definir a cassação do ex-ministro José Dirceu, de quem o sr. é testemunha de defesa?
Aldo – Não tenho como falar de uma hipótese.
Folha – O sr. conversou com o presidente Lula sobre a candidatura?
Aldo – Tenho conversado sempre com o presidente Lula sobre a situação política do país e sobre os desafios do Brasil e do próprio governo do presidente Lula
Eleição na Câmara terá novas regras
Marcada para a próxima quarta-feira, a eleição para presidente da Câmara dos Deputados terá novas regras e um inédito debate televisionado entre os candidatos.
Por consenso, os líderes partidários reunidos ontem pela manhã decidiram proibir a utilização de cartazes, faixas, banners e santinhos na campanha eleitoral interna, o que, se respeitado, fará dessa uma eleição bastante diferente. Trata-se, porém, de um acordo informal, sem previsão de sanções para quem descumpri-lo.
Na eleição que consagrou Severino Cavalcanti (PP-PE), em fevereiro, corredores, gabinetes e salas da Câmara ganharam o apelido de "arraial de festa junina", tamanha era a quantidade de bandeirinhas e faixas afixadas. O mesmo ocorreu em 2001, na disputa entre o então pefelista Inocêncio Oliveira (PE) e o tucano Aécio Neves (MG), vencida pelo último.
"Não há tempo para grandes produções de campanha, mas, mais importante, não existe clima", disse o líder do PSB, Renato Casagrande (ES). No máximo, será autorizada a distribuição de "cartas-compromisso", como já fez ontem um dos candidatos, Beto Albuquerque (PSB-RS).
Há uma avaliação entre líderes partidários de que houve excessos nas campanhas anteriores. Para piorar, a agência SMPB, que tinha Marcos Valério de Souza como sócio, esteve envolvida em algumas delas, produzindo material para João Paulo Cunha (PT-SP) em 2003 e para Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) em 2005.
A necessidade de manter uma campanha "sóbria" foi uma das razões apontadas pelos líderes na reunião, mas não a única.
Prevaleceu também a idéia de a Câmara dar o exemplo no momento em que está em tramitação na Casa uma proposta que reduz em muito os custos de campanhas políticas nas eleições do ano que vem. Batizada de "minirreforma política", está atualmente na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e tem de ser aprovada até o final da semana que vem para valer já em 2006.
O debate será transmitido ao vivo pela TV Câmara na terça-feira, às 18h. Todos os candidatos serão convidados, mesmo que isso signifique a participação de até 14 deputados federais.
Às 10h de quarta inicia-se o primeiro turno da votação, que é secreta e manual (em cédulas). Caso nenhum dos candidatos reúna a maioria dos votos válidos (que se dá pela exclusão dos nulos), há o segundo turno, às 18h, entre os dois mais bem colocados. São 513 votos possíveis.