Retirada estratégica
- Posted by: Ass. Imprensa
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Correio Braziliense
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, colocará a MP em votação terça-feira, com ou sem acordo de lideranças. O problema é que, na avaliação do presidente do Senado, do vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque, e de líderes das bancadas governistas, a MP corre risco altíssimo de ser rejeitada. Se, na data marcada por Cavalcanti, não houver deliberação, a pauta da Câmara ficará trancada a partir do dia 31.
Além de aumentar impostos contra toda a expectativa do sistema produtivo, já estrangulado por carga tributária considerada das mais altas do mundo, o governo usou a via inconveniente da medida provisória. Semelhante delegação legislativa facultada pela Constituição ao Executivo produz efeitos desde sua expedição. Efeitos, explique-se, que perderão eficácia apenas se a MP não for convertida em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável por igual período, ou rejeitada.
Os preceitos acolhidos na MP nº 232 aumentaram de 28% para 40% a base de cálculo da Contribuição Social Sobre o Lucro (CSSL) e do Imposto de Renda das empresas prestadoras de serviços optantes pelo recolhimento por lucro presumido. Além de insuportável, a nova incidência tributária alcança, por exemplo, desde a mais avançada clínica médica até barbearias e microempresas dedicadas ao conserto de fechaduras. Tão elevada é a obrigação que se configura como verdadeiro confisco, expropriação vedada pela Constituição (artigo 150, IV).
Seria conveniente que as advertências sobre a abusiva exasperação do contributo fiscal e os riscos de sua rejeição iminente fossem acolhidas pelo governo. No caso, a forma de evitar o pior é, sem dúvida, a retirada da matéria. E, a seguir, abrir negociações com a participação dos agentes econômicos alvejados pelo excessivo rigor tributário e interlocutores políticos aptos a aplainar o caminho para a convergência de vontades.
A obsessão da equipe econômica de sangrar as veias da produção com novos encargos põe-se na contramão da realidade. São cada vez mais robustos os fluxos de recursos com que os impostos inundam o Tesouro. Em fevereiro, a Receita Federal arrecadou nada menos de R$ 25,12 bilhões, acréscimo de 3,01% sobre igual período do ano passado. Tais valores representam recursos já deflacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Antes de cogitar de pressões tributárias, o governo agiria de forma coerente com a necessidade de injetar mais dinamismo na economia se cuidasse de desonerar os custos das empresas. É da espécie, por sinal, a aspiração que prepondera dentro do Congresso e na sociedade.