Só apoio virtual no ano que vem

Oct 15 2007
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Correio Braziliense, 14/10/2007

O presidente Lula quer repetir nas eleições de 2008 a base política de sustentação ao governo, mas terá dificuldades diante de um cenário que coloca aliados em confronto direto e próximos à oposição

Do alto de impressionantes índices de popularidade, na casa dos 60%, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá importante papel na eleição municipal de 2008. O apoio de Lula, porém, deverá ser mais virtual do que concreto. Ele sonha reproduzir a base aliada pelo país, mas percebeu que há mais disputa do que concórdia entre os partidos governistas. Em jantar com os líderes aliados na Câmara, há quase duas semanas, o presidente avisou que pretende pedir votos apenas no segundo turno, quando a base estiver unida. Mas esse cenário deverá ser raro. Nas principais capitais do país, onde o resultado eleitoral poderá ter reflexos na disputa em 2010, aliados estão unidos a partidos adversários do Palácio do Planalto. Em outros casos, duas legendas aliadas a Lula são as favoritas na disputa.

Os líderes dos partidos governistas reuniram-se há pouco mais de um mês na casa do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e discutiram a eleição municipal. Acertaram mapear as candidaturas de cada legenda para tentar cumprir a orientação de Lula de buscar um acerto. A idéia é descobrir quais são as cidades consideradas prioritárias para cada legenda e buscar acordo de apoio mútuo.

Mas as dificuldades são inúmeras. Lula deseja participar da eleição em um cenário em que a base esteja unida em torno de um nome que dispute contra um candidato de um partido oposicionista (DEM, PSDB, PPS ou PSol). O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), por exemplo, considera inviável a presença de Lula em Natal. Ele mesmo tenta um acordo, em torno da eleição para a prefeitura da capital, com um dos mais aguerridos críticos do governo, o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), de quem também foi feroz adversário. Para evitar desacertos, ele acha fundamental, por exemplo, evitar o debate nacional. “Temos de tratar de questões municipais, no máximo estaduais, não tratar de questão nacional”, avalia. “Se ele bater no governo Lula, eu vou ter de defender.”

O interesse do presidente na eleição municipal tem dois objetivos básicos. O primeiro é evitar que a eleição se transforme em guerra e provoque a implosão da base aliada em Brasília nos dois anos finais de seu mandato. Em 2004, o governo enfrentou grave crise política após a disputa municipal. A maioria dos partidos se queixava da voracidade do PT durante a eleição. Mas a principal pretensão de Lula é organizar o cenário para a disputa presidencial de 2010. Os prefeitos das capitais e das principais cidades serão importantes cabos eleitorais para os candidatos a presidente da República.

A presença de Lula na eleição, porém, deverá ocorrer mais à distância e de forma subliminar. Mesmo em capitais dos estados mais populosos, como Porto Alegre, um dos berços do PT, há tamanha profusão de candidatos aliados que será difícil ao presidente manifestar preferência. Muito menos em um combate contra um oposicionista. “A oposição pura, só o PSDB ou DEM, tem pouca chance de ir para o segundo turno”, avalia o vice-líder do governo Beto Albuquerque (PSB-RS). “A melhor coisa para a governabilidade é que haja discreto envolvimento do governo e do presidente.”

O cenário é complicado no Rio de Janeiro, especialmente pela briga no PMDB. A candidatura do ex-tucano Eduardo Paes tem a vantagem para Lula de implodir a tentativa de aliança do partido com o DEM do prefeito César Maia, que quer lançar Solange Amaral. O problema é que Paes, ex-deputado federal, foi um dos mais ferinos críticos do presidente no primeiro mandato. “Lula pode ir no palanque do PT ou do (Marcelo) Crivella se o PMDB não tiver candidato”, prevê o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A boa notícia para Lula é que ele ainda tem chances de subir nos palanques de pelo menos duas das maiores cidades do país: Belo Horizonte e São Paulo. Na capital paulista, a presença dele seria mais do que bem vinda. A polarização entre oposição e governistas é quase inevitável.

Temos de tratar de questões municipais, no máximo estaduais, não tratar de questão nacional