Belo Horizonte viverá hoje um dia de muita agitação política, com avanços importantes na definição do quadro eleitoral de 3 de outubro, a exemplo da semana passada. Os dois principais pré-candidatos a prefeito estão no palco desta supersegunda-feira política, na qual brilhará também o ministro Patrus Ananias, que cumpre extensa agenda, com destaque para dois encontros: um com o prefeito Fernando Pimentel e outro, logo depois, com o governador Aécio Neves, dois personagens que procuram costurar acordos não só para a eleição municipal deste ano, mas também para a de governador, em 2006, entre outras. Aécio e Pimentel são pré-candidatos à reeleição e desejam um acordo de apoio mútuo.
Na semana passada, os dois deram declarações neste sentido. Pimentel afirmou em um programa da TV Assembléia que acredita na possibilidade de aliança com os tucanos, não apenas para uma eleição, mas para projetos comuns, já que PT e PSDB têm origens semelhantes na luta pela redemocratização. O prefeito repete o presidente Lula, que também na semana passada declarou, como registrou esta coluna, que após a reforma política alguns políticos do PT e alguns do PSDB poderão estar juntos. Já em Poços de Caldas, ao inaugurar um aeroporto, o governador Aécio Neves admitiu que, em algum momento, será possível uma aliança do PSDB com o PT.
O certo é que o ministro Patrus, que há bem poucos dias era o único petista capaz de ameaçar a indicação, dentro do partido, de Pimentel como pré-candidato à reeleição, já deve acertar com o prefeito detalhes da sua participação na campanha, pois Lula não aceita perder em pelo menos duas capitais: Belo Horizonte e São Paulo. Até mesmo porque, para ser candidato, Patrus teria que se desincompatibilizar até abril e deixar o Ministério de Combate à Fome, que acaba de assumir. Mas como a eleição de Pimentel depende muito do governador, Patrus conversará primeiro com um e depois com o outro.
Também hoje estará se movimentando aquela que já está sendo conhecida como a carta que Aécio carrega na manga do colete, ou seja, a pré-candidatura pelo PSB a prefeito de Belo Horizonte do deputado João Leite, atual secretário de Estado de Desenvolvimento Social, cargo semelhante ao que Patrus ocupa no Governo Lula. João Leite dá mais um passo rumo à meta de colocar sua pré-candidatura como um fato consumado durante a inauguração, hoje, da nova sede do PSB em Belo Horizonte, mesmo sem ter ainda o apoio oficial e decisivo não só do governador Aécio Neves, mas também do presidente nacional do PSB, Miguel Arraes. Porém, João Leite espera receber hoje em Belo Horizonte outras figuras de proa do PSB, como o governador alagoano Ronaldo Lessa, o vice-líder do Governo Lula na Câmara, Beto Albuquerque (RS) e os deputados federais Jonas Donizete (SP) e Janete Capiberibe (AP).
Para resumir, a indicação de Patrus para o Governo Lula deixou livre no PT o caminho da pré-candidatura de Pimentel à reeleição. Mas algumas pesquisas já realizadas aqui e ali mostram que João Leite é um adversário à altura para Pimentel, muito mais do que foi para Célio de Castro, na eleição passada, a quem, na realidade, nunca chegou realmente a ameaçar ao longo de toda a campanha que reelegeu o Dr. Beagá. Duas pessoas têm condições de afastar João Leite da disputa em benefício de Pimentel: o governador Aécio Neves, que para isso teria de amarrar o apoio dos petistas à sua reeleição ou a outro cargo em 2006, e daí por diante, quem sabe até o Palácio do Planalto, após a reeleição de Lula. E Miguel Arraes, que é da cozinha de Lula e controla do PSB, apesar dos diretórios do partido em Minas terem estado, nos últimos anos, em tanta confusão que poucos sabem, realmente, quem de direito manda. Até porque o PSB em Belo Horizonte, que reelegeu Célio de Castro, hoje no PT, é dividido entre a turma do João Leite, um ex-tucano, e a que continua dentro da prefeitura, capitaneada pelo antigo secretário de Célio, Otílio Prado.
Outras forças também estão se movimentando. Ainda na semana passada, o deputado federal Roberto Brant, pré-candidato do PFL a prefeito, se reuniu com dirigentes do PMDB, que saíram do almoço anunciando que querem conversar também com João Leite, mas não com Pimentel. O diretório municipal do PMDB, para marcar presença, também anunciou na sexta-feira que teria pré-candidatos, que, segundo Márcio Cunha seriam Maria Elvira, Leonardo Quintão, Gilberto Abramo e Hélio Costa. E ainda também na semana passada, o PTB marcou presença com o deputado federal Ronaldo Vasconcellos, que foi até o Palácio da Liberdade comunicar ao governador Aécio Neves que é pré-candidato a prefeito de BH.
O quadro vai se formando, mas Aécio está com o burro na sombra e, por isso mesmo, tem condições de aguardar a Semana Santa – leia-se o prazo de desincompatibilização – para se posicionar.
(*) Interino, Adriano Souto é editor-adjunto de Política e-mail para asouto@hojeemdia.com.br
