Um candidato sem palanques

Feb 08 2010
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 Estado de Minas – Segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010 – Política

Por Ricardo Brito

Ciro Gomes enfrenta como principal obstáculo a falta de candidatos do PSB nos estados

Brasília – A vontade do deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) de ser candidato à Presidência da República esbarra na falta de palanques fortes nos estados para fazer campanha em outubro. Levantamento feito pelo Estado de Minas/Correio Braziliense aponta que o PSB, até o momento, não tem pré-candidatos em 17 dos 27 estados. Essas regiões correspondem a potenciais 76,8 milhões de votos a conquistar no universo de 132 milhões do eleitorado brasileiro — 60% do total. Os petistas apostam na falta de palanques regionais, um dos principais termômetros para avaliar o potencial de crescimento de uma campanha, para demover Ciro do projeto presidencial.

Desde que o PSB o aclamou candidato em novembro passado, o ex-ministro não firmou qualquer aliança com outros partidos. Enquanto isso, o PT da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, costurou amplo leque de alianças regionais — a escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo já tem palanques garantidos nos 26 estados e no Distrito Federal. Lula, que deseja Ciro fora do páreo, quer uma disputa plebiscitária entre Dilma e José Serra, governador de São Paulo e candidato do PSDB. Apesar da pressão nas últimas semanas dos petistas, só em março Ciro e os socialistas vão decidir se retiram a candidatura.

O socialista não conta com palanques em importantes colégios eleitorais. São os casos do segundo, terceiro, quarto e sexto estados em números de votantes: Minas Gerais (14,1 milhões), Rio de Janeiro (11,3 milhões), Bahia (9,2 milhões) e Paraná (7,3 milhões). Só esses quatro estados representam quase um terço dos eleitores no país. Ao todo, são 15 estados onde o PSB não tem candidatura própria. Em outros dois, o Rio Grande do Sul (5º colégio, com 7,8 milhões de votantes) e o Distrito Federal (20º colégio, com 1,7 milhão), o partido cogita lançar aos governos os deputados Beto Albuquerque e Rodrigo Rollemberg, atual líder da bancada, para reforçar os palanques de Ciro.

Mesmo nos estados em que o partido dele é forte, pequenos e médios colégios eleitorais, Ciro também terá dificuldades. Em Pernambuco, por exemplo, o governador e presidente do partido, Eduardo Campos, estimula Ciro. Mas não pretende que o projeto presidencial crie embaraços para sua reeleição ao Executivo — o PT, que pelo arranjo no estado terá direito a uma vaga ao Senado, cogita lançar candidato ao Palácio Campo das Princesas caso Ciro saia presidente.

No Rio Grande do Norte, o PT pode retirar apoio à candidatura de Iberê Ferreira, vice-governador pelo PSB. O irmão de Ciro e candidato à reeleição ao Ceará, Cid Gomes, pode ter sua campanha esvaziada, uma vez que Dilma e Lula se comprometeram a apoiá-lo. Cid teria, então, de se desdobrar em dois palanques.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país com 29 milhões de eleitores, o deputado pelo Ceará está entre a cruz e a espada. Ciro mudou o domicílio eleitoral em setembro para lá a fim atender um apelo de Lula: tornar-se candidato ao governo paulista. Mas o ex-ministro diz não querer. Em compensação, o pré-candidato do PSB e presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, patina com no máximo 2% das intenções de voto numa disputa polarizada entre o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e um candidato do PT, possivelmente o senador Aloizio Mercadante ou a ex-prefeita da capital Marta Suplicy.

Passos lentos

Dirigentes do PSB estão cientes de que as negociações para possíveis alianças para a chapa presidencial do ex-ministro Ciro Gomes caminham a passos lentos. Até o momento não há um acerto. O acordo com outras legendas é fundamental para aumentar o número de palanques de Ciro e o tempo de TV do candidato nas eleições — o PSB sozinho tem em torno de dois minutos e meio no primeiro turno. O senador Renato Casagrande, secretário-geral do PSB e pré-candidato ao governo capixaba, afirma que a candidatura dele teria um efeito cascata. Ajudaria aumentar de 27 para 40 a bancada de deputados e conquistar mais do que as atuais duas vagas ao Senado. Casagrande também defende o lançamento de nomes aos executivos estaduais para alavancar o projeto presidencial.
 

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