Uma luta de pai e filho
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Correio Braziliense, 08/02/2009
Beto Albuquerque com Pietro: "não é fácil para um pai enterrar o filho"
"Em dezembro de 2007, descobrimos que Pietro tinha leucemia mieloide aguda, considerada a pior e a mais dura de ser vencida. Os primeiros sintomas observados foram cansaço, sonolência e náuseas. Quando ele prestava vestibular para o curso de cinema na Universidade Federal de Santa Catarina, ele sentiu-se mal. Num primeiro momento, muitos achavam que era estresse em razão das provas, mas ao ser atendido num setor de emergência, foi diagnosticada anemia profunda, levando logo à conclusão de que se tratava de leucemia. Conseguimos realizar o primeiro transplante em novembro de 2008. E o segundo, em janeiro deste ano, mais de um ano depois do diagnóstico. Nesse período todo, ele ficou exposto, sem imunidade e sem defesa. Se eu tivesse conseguido cedo um doador compatível no Registro Nacional de Doadores de Medula, ele poderia ter feito o transplante em abril, num momento em que estava fisicamente mais fortalecido. O problema é que, até a cirurgia, em novembro, ele passou por sete sessões de quimioterapia, procedimento que vai destruindo as defesas. Como não achamos nenhum doador adulto no Brasil, recorri ao cadastro de doadores adultos dos Estados Unidos, onde também não havia ninguém compatível. Mais tarde, achamos um cordão umbilical em Nova York e outro na França, o que possibilitaria um transplante de duplo cordão. Foi uma construção complexa, demorada e difícil, numa modalidade de transplante que ainda não é muito normal. Não há mais de 500 procedimentos do gênero realizados no mundo. Na terceira fase pós-operatória, os cordões não conseguiram vencer a doença. Restou-nos o transplante da medula da mãe dele, Débora Gelatti, que tinha 60% de compatibilidade. Fizemos o novo procedimento em 6 de janeiro. Essa segunda nova medula começou a dar sinais importantes, mas Pietro já havia contraído uma infecção pulmonar que virou pneumonia. Surgiu um quadro de Síndrome de Angústia Respiratória Adulta. Quando o segundo transplante pegou, ele acabou tendo falência múltipla dos órgãos. Pietro era escritor. Sua primeira obra chama-se Dias Contados. Ele deixou em seu computador um segundo livro, chamado Quem Tem Coragem. Vamos publicar, além de um outro livro dele dirigido a crianças. Se eu pudesse, criaria uma lei proibindo pais de enterrar os filhos, porque não é fácil para um pai enterrar o filho."