Eram 9h30min de ontem quando o corpo de Leonel Brizola cruzou pela última vez os imponentes portões de ferro do Palácio Piratini. Carregado por cadetes da Brigada Militar, o caixão desceu a escadaria ao som do Hino da Legalidade e da Marcha Fúnebre, de Chopin, executados pela banda da Brigada Militar.
Além dos instrumentos, ouviam-se apenas os gritos de comando aos cadetes que carregavam o caixão e a chuva caindo. Do outro lado da Rua Duque de Caxias, populares com guarda-chuvas nas mãos ficavam na ponta dos pés para assistir à cena.
Nas escadarias do Palácio, a senadora Heloísa Helena (Psol-AL) chorava amparada pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). Vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, Beto Albuquerque (PSB) falava com dificuldade:
– Tenho certeza de que Brizola antes de sair daqui levantou a cabeça. Ele podia sair de cabeça erguida.
Às 7h30min, a visitação pública no Salão Negrinho do Pastoreio foi encerrada. Quinze minutos depois, o presidente em exercício, José Alencar, chegou ao palácio. Trouxe no Boeing presidencial ministros e parlamentares. Na visita de menos de uma hora, Alencar ficou menos de 10 minutos ao lado do caixão. Antes de seguir viagem para São Paulo, fez questão de exaltar o nacionalismo do morto:
– Não há um arranhão na sua vida pública. Sempre primou pela probidade absoluta, pela brasilidade, um nacionalista puro.
Informal, Alencar falou com jornalistas sentado à mesa de uma das secretárias do governador Germano Rigotto. Evitou apenas as perguntas sobre assuntos de governo. Restringiu-se ao motivo de sua rápida passagem pelo Estado:
– Independentemente do partido ao qual pertençamos, todos já temos saudade de Leonel Brizola. E agora aqui, vendo a fisionomia dele, a impressão é de que ele parece estar falando. Brizola não perdeu aquela fisionomia viva, falante, e a fala dele vai perdurar.
O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, foi questionado sobre a possibilidade de o PDT se aproximar da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
– Tenho de ir ali cumprimentar a família de Brizola – desconversou.
A comitiva que levou o corpo fez o trajeto até o aeroporto em menos de 20 minutos. A pressa e a chuva não impediram homenagens isoladas, como a solitária senhora acenando com uma rosa branca em frente à Santa Casa de Misericórdia e os funcionários de lojas da Avenida Farrapos postados na calçada. Às 10h36min, o lear jet levando o corpo de Brizola decolou em direção a São Borja.
RODIMAR OLIVEIRA/ Colaborou Deise Mietlicki |