A Lei Pietro

Apr 02 2009
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A lei 11.930, de 22 de abril de 2009. tem como o foco o esclarecimento e a mobilização do doador voluntário, cuja compatibilidade sangüínea permite ser doador de medula óssea, em vida, sem prejuízo a sua saúde.

O transplante de medula óssea é indicado para pacientes que sofrem de leucemia, linfomas, anemias graves e imunodeficiências congênitas, além de outras 70 doenças relacionadas aos sistemas sangüíneo e imunológico.

Só de leucemias, o Brasil já tem mais de dez mil casos por ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Inspiro-me, desde o dia 14 de dezembro de 2007 a apresentar este projeto por ter vivido um desafio na família para encontrar doador que permitisse fazer o transplante de medula no meu filho Pietro, que possuía leucemia mielóide aguda.

Assim como nós, milhares de famílias no Brasil enfrentam, muitas vezes, dificuldades de encontrar doador no círculo familiar ou mesmo no Brasil.

Há doenças, como essas referidas, cujo principal problema localiza-se na ausência de solidariedade.

Por isso, quanto maior o número de doadores, mais fácil será encontrar um doador compatível e, assim, salvar vidas.

Lei nº 11.930, de 22 de Abril de 2009

Institui a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei institui a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea.

Art. 2º Fica instituída a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea, que será realizada, anualmente, de 14 a 21 de dezembro.

§ 1º Durante a Semana, serão desenvolvidas atividades de esclarecimento e incentivo à doação de medula óssea e à captação de doadores.

§ 2º As ações, atividades e campanhas publicitárias devem envolver órgãos públicos e entidades privadas a fim de informar e orientar sobre os procedimentos para o cadastro de doadores e a importância da doação de medula óssea para salvar vidas e sobre o armazenamento de dados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea – REDOME.

§ 3º A frase a ser difundida durante a Semana é: “Neste Natal, dê um presente a quem precisa de você para viver: cadastre-se como doador de medula”.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de abril de 2009; 188º da Independência e 121º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

José Gomes Temporão

Publicação:

Diário Oficial da União – Seção 1 – 23/04/2009 , Página 1 (Publicação)

Pietro Albuquerque: vida e morte do guri que virou lei

Por Renan Antunes de Oliveira *

Anote o nome: Pietro. Pietro Albuquerque. Com certeza você ainda vai ouvir falar deste jovem classe média alta da Zona Sul. Morto de leucemia mielóide poucos dias antes de fazer 20 anos, ele já tem um lugar na história: em sua homenagem a Câmara Federal aprovou a “Lei Pietro”.

A proposta foi do pai dele, o deputado federal do PSB gaúcho Beto Albuquerque, apresentada em dezembro de 2007, logo depois do filho ter sido diagnosticado com a doença – o pai deputado sentiu as dificuldades do brasileiro comum para tratar leucemia pelo SUS.

A lei designa de 14 a 21 de dezembro “Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea” – como transplante é a única chance de cura, a lei transformou a dor da família Albuquerque em esperança para milhares de pessoas na mesma situação.

O projeto se arrastou um ano na Câmara – ao mesmo tempo a doença ia consumindo Pietro. Para tratar-se, ele recorreu a bancos de doadores em Paris e Nova York. Um dia depois de sua morte, em 3 de fevereiro, os parlamentares se deram conta do drama do colega e aprovaram a lei.

O mérito da proposta é mobilizar a sociedade para conseguir doadores no país: “Se meu pai não fizer mais nada no mandato, já terá feito muita coisa por muita gente”, diz Rafael, publicitário, 23 anos, irmão de Pietro.

É um elogio ao pai, mas também um fato: segundo estatísticas do Ministério da Saúde, todo ano quase 10 mil pessoas contraem leucemia. O Brasil tem 300 mil doadores cadastrados. É pouco: cada doente tem só uma chance em 100 mil para encontrar alguém compatível.

Entre os vários tipos da doença, a mielóide é a mais difícil de curar, mata oito de cada 10 pacientes. Na maioria das vezes ataca homens adultos, dos 50 pra cima, embora tenha acertado Pietro na flor da juventude, aos 18.

Em 14 meses de luta contra a doença, ele usou todo arsenal médico disponível. Era beneficiário da mãe no plano de saúde do Banco do Brasil e se tratou no melhor hospital brasileiro, o das Clínicas, em São Paulo.

Foi preciso mudar de cidade porque não havia leito do SUS para pacientes da doença na base eleitoral do deputado: “Porto Alegre só tem sete ou oito leitos especiais para essa doença. Tentei outros lugares públicos mais próximos, mas também não consegui lugar para ele”, disse Beto – e se foi difícil para um dos líderes do governo, imagine-se para o cidadão comum.

Pietro teve apoio de pai, mãe, irmãos, madrasta, avós. Teve todo dinheiro necessário para todas as despesas. Fez quimioterapia e radioterapia. Foi mantido em quartos isolados para evitar contaminação. Tentou até o transplante de cordão umbilical, a última moda em soluções mágicas.

Quando nem os bancos de medula no exterior ajudaram, os médicos tentaram transplante de medula com material doado pela mãe. Nem esta cartada final da medicina funcionou.

Por todos os relatos, o Pietro que se foi era um cara na dele, muito tranqüilo. Nasceu em Passo Fundo, veio pequeno para Porto Alegre. Gostava de garotas, de ler, de música, praia em Floripa, cinema, do Colorado e do gato Tinkleydison.

Olhando para trás, ele parecia saber que estava marcado para morrer cedo. Aos 16, publicou um livro com título premonitório: “Dias Contados”.

A obra saiu durante a Jornada Nacional de Literatura da Universidade de Passo Fundo. No texto de apresentação a professora Tânia Rosing escreveu que “Pietro de Albuquerque terá longa vida como escritor” – ela não teve a menor intuição do que estava por vir.

O livro é muito bom, ainda mais considerando que foi escrito quando o guri tinha 15. E são 296 páginas – uma façanha nestes tempos em que adolês falam por email e torpedos.

“Dias Contados” é sobre o cotidiano de quatro personagens meio autobiográficos: Yuri, Caíque, Cecília e Priscila. Seriam ele mesmo, seu irmão e duas primas. O irmão diz que muito do que está escrito é da vivência, “ele era muito observador”, mas que também há coisas inventadas porque “ele era muito criativo”.

No texto, o personagem Yuri se descreve como “um garoto bem sociável, nada tímido, mas também não muito extrovertido. Ao mesmo tempo em que gosta de dar uns beijos sem importância, é muito romântico”.

Pietro balançou um pouco, lá pelos 10 anos, quando os pais se divorciaram. “Foi surpreendente, inesperado, pois para todo mundo parecia um conto de fadas”, diz Rafael. “Pietro ficou muito pra dentro”, dando no ponto em que o brother se tornou introvertido.

Os dois ficaram vivendo com a mãe, dona Débora. Logo estabeleceram uma rotina sem o pai, que só viam nos fins de semana e datas especiais – o deputado, sempre ocupado em Brasília, casou de novo e tem mais uma filha, Nina, pequena.

Muitas das estrepolias contadas no livro foram a maneira que Pietro encontrou para lidar com a separação. A primeira frase: “O menino era muito parecido com o pai, embora tivesse alguns traços da mãe”.

Quando fala dele, o pai tenta não se emocionar muito: “O Pietro era um menino muito envolvido com a cultura”, disse, em entrevista, algumas semanas depois da morte.

Ele lia Josué Guimarães, Érico Veríssimo, Machado de Assis, Lima Barreto, Umberto Eco. “Eram autores que ele tinha que ler para o vestibular, mas que acabou gostando e indo adiante”, conta Rafael.

O deputado agora está lendo o segundo livro do filho, “Quem tem coragem”, uma obra inédita que Pietro escreveu no hospital e deixou na memória de seu notebook. O texto tem uma leve marca da tragédia que se aproximava:

Agora, ele já podia comemorar aliviado o seu feito. Havia completado a sua missão. Havia terminado o que antes não havia conseguido. Restava-lhe esperar. Esperar por um juízo. Nunca fora de acreditar em destino, mas talvez os acontecimentos mais primordiais de sua vida o fizessem repensar. Era até irônico. Mais atrás, às suas costas, quatro homens de arma em punho vinham na sua direção sedentos por vingança. “Achar vai ser fácil, o difícil é conseguir sair”. E riu, preferindo nem olhar para o que lhe aguardava. E tirou do bolso o seu amuleto. Coragem, rapaz, coragem.

Até ser diagnosticado com a doença, Pietro vinha se dando bem na vida. Fotos mostram que ele não era de se botar fora. Não tinha namorada, mas era um “ficante” que “honrava as tradições” – é a linguagem de Rafael para descrever o irmão namorador.

Pietro queria ser escritor e roteirista de cinema. Já doente, passou no vestibular para cinema na federal de Santa Catarina.

Outra paixão era a praia do Campeche, em Floripa, onde vivem as duas primas do livro. Ia seguido pra lá. No álbum da família ele aparece em fotos na praia, saudável, sorridente, como se nada pudesse lhe acontecer.

Pietro não era do tipo consumista – seus gastos quase nunca eram maiores do que a pensão de 200 reais que recebia do pai. O programa preferido era ver filmes com a mãe e o irmão. O último foi Na Natureza Selvagem, a história amarga de um jovem andarilho americano morto no Alasca.

Ele queria muito viajar. Tinha ido pra Disney quando pequeno, conhecia um pouco Uruguai, Paraguai e Argentina, mas sonhava com lugares exóticos. Um plano maluco era mudar-se para Valetta ou Birkirkara, cidades de Malta, uma ilha do Mediterrâneo.

Parece 100 por cento garantido que ele planejava mesmo mudar-se para lá quando desse, tanto que o projeto estava no Orkut dele – e se está no Orkut é pra valer.

Outros sonhos ? Andar de trenó. Abrir uma padaria em sociedade com a prima Yve – ela também adoradora de Malta, país cuja característica mais notável foi ter sido cristianizado por São Paulo em pessoa.

Pietro acreditava em Deus, mas a última vez que pisou numa igreja foi na primeira comunhão, lá pelos 10 anos. Não acreditava em política. “Acho que é porque sempre vivemos com a política na família, ele acabou indiferente”, conta Rafael – um tio deles, Francisco Turra, também é deputado federal e cordial adversário do pai.

No Orkut ele se definia como quem “narra a vida na terceira pessoa”, além de ouvinte da banda Coldplay. Fotografava a si mesmo nas situações mais hilárias, como se dando um tiro imaginário quando rodou no vestibular da UFRGS. Já minado pela doença, mantinha o bom humor na web, onde tinha 454 amigos. Estava ligado na comunidade “Doe Medula Óssea”. Na parte onde os internautas buscam namoradas ele só pedia como companheira ideal “uma medula nova bem fresquinha”.

A medula dele deixou de produzir sangue normal em algum momento no final de 2007. Os primeiros sintomas foram tonturas e náuseas. Um dia ele desmaiou durante uma aula no cursinho Unificado. No Hospital Mãe de Deus, os médicos diagnosticaram uma anemia profunda e pediram mais exames – em poucos dias a terrível doença foi descoberta.

A mãe estava com ele na hora do diagnóstico e foi sua enfermeira até o fim: “Os dois eram muito apegados, ficaram mais ainda”, lembra Rafael.

Dali pra frente a rotina da família virou de pernas para o ar. Pietro começou a fazer quimioterapia. Um mês no hospital, uma semana em casa. Em maio, depois de quatro meses de quimio, a traiçoeira doença parecia ter desaparecido: “Pensamos que ele se enquadraria entre os que conseguem se dar bem apenas com tratamento”, conta o pai – agora o deputado dedicava todos os fins de semana para estar junto com o filho.

A pequena melhora deu esperanças à família. Beto comemorou levando Pietro para Gramado e Canela, dias de brincadeiras com Nina. Ele ainda teve condições de ir pra Maceió com a mãe.

Em junho, o drama recomeçou. Ele começou a sentir-se mal outra vez. Testes confirmaram o pior. Foi aí que médicos e família começaram a procurar um doador de medula compatível – não basta ser da família, tem muito a ver com o tipo de sangue e outras variáveis. Basta ver que o irmão era 80% compatível, mas ao mesmo tempo não era melhor do que os 65% de compatibilidade da mãe.

O transplante só é solução se é encontrado um doador cedo. Pietro demorou 10 meses para o primeiro e 13 para o segundo, quando então já estava muito debilitado. O que faltou ? Justamente pessoas cadastradas como doadoras.

Até no exterior, a busca por um doador compatível foi infrutífera – isto que o banco americano de medula tem 15 milhões de doadores. Em agosto, os médicos tentaram a nova técnica de usar cordões umbilicais.

Eles encontraram um na França e outro nos Estados Unidos. Sangue 80% compatível com o de Pietro. Mas era puro risco: até ali, só 500 transplantes assim tinham feitos no mundo. Por questões burocráticas, o transplante de cordão demorou até novembro, o que não ocorreria se o país tivesse um bom banco do material – como Pietro já tava mal, piorou mais.

O ano em São Paulo foi duro também para a família, que se uniu em torno dele. Rafael conta que houve “entrega total de todo mundo. Ninguém media esforços. O pai era bom na tomada de decisões sob pressão. Cada um tinha um papel diferente. A mãe sempre dormia com o Pietro”.

Rafael ainda encontra tempo para dizer que a doença o fez descobrir de novo o pai em Beto: “Me reaproximei dele, fiquei com uma admiração imensa por quem ele é, pelo que ele fez”.

Os médicos iam fazendo o que podiam por Pietro. Rafa acha que “a medicina em São Paulo está cinco anos na frente de Porto Alegre em agilidade e remédios”, mas ela não faz milagres.

O transplante de material genético obtido dos cordões umbilicais do exterior pareceu dar certo. A medula pegou no tranco. Chegou a produzir sangue saudável, mas isto durou pouco. Pietro ganhou uma quase alta em São Paulo. Passava algumas horas por dia no ambulatório do HC e o resto do tempo num flat com a família – era o máximo possível de normalidade.

Exatos 85 dias depois, justo no Natal, a doença voltou. A tentativa seguinte foi o transplante de medula da mãe – a segunda chance para dona Débora Gelatti lhe dar a vida.

Para fazê-lo, é necessário que o paciente passe por pesadas sessões de quimioterapia e radioterapia – isto rala o corpo, com o objetivo de zerar a imunidade para não rejeitar o material doado.

Pietro enfrentou esta barra, mas foi para o transplante nas últimas energias. A operação caiu no dia 6 de janeiro, aniversário de Beto – se alguma coisa isto significa, que outros busquem o sentido: medula da mãe, no dia do pai.

O deputado apelou até para seu santo de devoção: “Se desse certo, nós iríamos visitar a terra de São Francisco, na Itália”.

Dali pra frente o quadro se complicou de vez. Ele teve uma sinusite que virou pneumonia, que virou infecção pulmonar, que virou Síndrome de Angústia Respiratória de Adulto, tudo isso em 16 dias após o transplante.

Nesta etapa ele já estava todo ligado em tubos e diferentes aparelhos. “Apesar de tudo, Pietro sempre foi muito confiante. O cara estava a fim de viver. Quando a gente falava o que estava fazendo, ele só dizia ‘beleza, vamos tentar’”.

E aí, entre 22 de janeiro a 3 de fevereiro foi só sofrimento. Pietro caiu na inconsciência, da qual não mais voltaria. Fazia gestos de sim com a cabeça, apertava a mão do interlocutor, mas já era pura agonia. Beto resume tudo: “Pietro foi um guerreiro”.

Na tarde do dia 3 os médicos avisaram a família que o menino deles estava em seus últimos momentos – ele morreria horas depois, mansamente, na madrugada. “Ali choramos tudo o que tínhamos, eu, meu pai e minha mãe”, lembra Rafael, agora tranqüilo. Um padre esteve no quarto e lhe deu a extrema-unção.

Recuperado e também sereno, o deputado diz que o filho lhe deixou uma tarefa: “Quero evitar que outros pais passem o que eu passei”.

Pietro foi enterrado no Jardim da Paz. Presentes, 17 deputados, o presidente da Câmara Michel Temer e o ministro das Relações Institucionais José Múcio, representando o presidente Lula.

A família retomou sua rotina. Na casa da Zona Sul, nada de culto a Pietro. Seu computador e a TV ainda estavam no mesmo lugar no início de março, mês em que ele faria 20 anos, mas as roupas já foram doadas para os pobres. A cama estava feita, embaixo escondia-se o gato Tinkleydison.

Fotos dele continuam nas paredes. Sobre a mesa, dois recuerdos do Pietro que se foi. Uma engraçada caneca imitando seio feminino. E um pequeno jipe feito com massa de modelar, envernizado e colorido, com pranchas de surf na capota – tipo coisa sonhada para seus dias na ilha de Malta.

*Colaboração de Daiane Menezes

Dê um presente para quem precisa de você para viver

Cadastre-se como doador de medula. Basta doar apenas10ml de sangue.

Para se cadastrar como candidato à doação de medula, segundo informações contidas no sítio do INCA, é preciso ter entre 18 e 55 anos, boa saúde e não apresentar doenças infecciosas ou hematológicas. A pessoa deve apresentar documento oficial de identidade com foto e preencher o formulário de cadastramento.

No momento do cadastro, a pessoa recebe todos os esclarecimentos sobre o processo de doação e, em seguida, é colhida uma pequena amostra de sangue (um tubinho de sangue, com cerca de 5ml) que será submetida a um exame genético chamado de histocompatibilidade (HLA).

O resultado da tipagem HLA e os dados cadastrais da pessoa são incluídos em um banco de dados, chamado Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), que é coordenado pelo INCA. A medula óssea é um tecido líquido que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecida popularmente por ‘tutano’. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas.

O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças malignas que afetam as células do sangue. Ele consiste na substituição de uma medula óssea doente, ou deficitária, por células normais de medula óssea, com o objetivo de reconstituição de uma nova medula. O transplante pode ser autogênico, quando a medula ou as células precursoras de medula óssea provêm do próprio indivíduo transplantado (receptor). Ele é dito alogênico, quando a medula ou as células provêm de um outro indivíduo (doador). O transplante também pode ser feito a partir de células precursoras de medula óssea obtidas do sangue circulante de um doador ou do sangue de cordão umbilical.

Antes da doação, o doador faz um exame clínico para confirmar o seu bom estado de saúde. Não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação. A doação é feita por meio de uma pequena cirurgia, de aproximadamente 90 minutos, em que são realizadas múltiplas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia e é aspirada a medula. Retira-se um volume de medula do doador de, no máximo, 10%. Esta retirada não causa qualquer comprometimento à saúde.

Para que se realize um transplante de medula é necessário que haja uma total compatibilidade tecidual entre doador e receptor. Caso contrário, a medula será rejeitada. Esta compatibilidade tecidual é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossoma 6. Por isso, devem ser iguais entre doador e receptor. Esta análise é realizada em testes laboratoriais específicos, a partir de amostras de sangue do doador e receptor, chamados de exames de histocompatibilidade. Com base nas leis de genética, as chances de um indivíduo encontrar um doador ideal entre irmãos (mesmo pai e mesma mãe) é de 35%.

Quando não há um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução é procurar um doador compatível entre os grupos étnicos semelhantes. Embora, no caso do Brasil, a mistura de raças dificulte a localização de doadores, é possível encontrá-los em outros países. Desta forma surgiram os primeiros Bancos de Doadores de Medula, em que voluntários de todo o mundo são cadastrados e consultados para pacientes de todo o Planeta. Hoje, já existem mais de 5 milhões de doadores. O Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) coordena a pesquisa de doadores nos bancos brasileiros e estrangeiros.

O INCA já lidera, em parceria com os hemocentros, várias empresas e instituições no Brasil, a partir de junho de 2004, uma Campanha Nacional de Doação de Medula Óssea, que agora queremos institucionalizar. Com a campanha já foi possível aumentar o registro brasileiro de doadores que, em 2003, só oferecia 11% do material utilizado para os transplantes. Hoje, o registro já responde por 70% dos doadores encontrados e em outubro de 2006 alcançou a marca de mais de 300.000 doadores cadastrados.

Apesar de crescente, este número ainda é insuficiente para atender à demanda de pacientes, principalmente, pelo fato de a probabilidade de se achar um doador compatível dentro do Brasil ser de um em 100 mil.

Para ser doador

A cada ano temos no Rio Grande do Sul 1.000 novos casos de leucemias, sendo que o transplante de medula óssea torna-se inevitável na maioria destes casos.

Hoje, a chance de se encontrar uma medula compatível pode ser de uma em 100 mil.

Por isso, são organizados Registros de Doadores de Medula Óssea, cuja função é cadastrar pessoas dispostas a doar.

Para se fazer parte do cadastro de candidatos a doador basta ir a um dos locais da lista ao lado para extrair uma pequena quantidade de sangue da veia – apenas 10 ml – e preencher um formulário com informações pessoais.

Feito isso, o sangue passará por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste feito em laboratório para identificar as características genéticas que podem influenciar no transplante. Seu tipo de HLA será incluído no cadastro nacional. Quando um paciente necessitar de transplante, esse cadastro será consultado e, se for localizado um doador compatível, esta pessoa será convidada a fazer a doação de medula – sangue gelatinoso que se encontra junto aos ossos.

No dia 3 de fevereiro de 2009 perdi meu filho Pietro depois de uma luta de 14 meses contra a leucemia, mas isso não me fez desistir de ajudar a salvar outras vidas. Conto com sua solidariedade que pode se dar a partir do simples ato de ir até um hemocentro ou a um hospital habilitado para tornar-se candidato a doador de medula óssea.

Ajude o Pietro a salvar outras vidas.

O procedimento de doação é muito simples, sem transtornos para quem doa, mas uma atitude que para o doente será a diferença entre a vida e a morte.

Onde se cadastrar

Hospital de Clínicas de POA

Rua São Manoel, 543 – 2.° andar (O Posto de Saúde fica nos fundos do hospital e a entrada é pela Rua São Manoel) – Bairro Santa Cecília – (51) 2101-8504. Como fazer: basta levar RG e CPF, de segunda a sexta-feira, das 08 às 17 horas. Informações (51) 2101.8504.

HEMORGS – Hemocentro do Rio Grande do Sul –

Av. Bento Gonçalves, 3.722 – Bairro Partenon – Porto Alegre (51) 3336.6755. Como fazer: É preciso realizar agendamento pelo telefone (51) 3336-2843.

É indispensável levar o RG. O horário de atendimento é de 2.ª a 5.ª feira, somente, das 08 às 16 horas.

Complexo da Santa Casa

Hospital Dom Vicente Scherer Av. Independência, 155 – 7° andar – Centro – Porto Alegre – (51) 3214-8670. Como fazer: É preciso realizar agendamento pelo telefone (51) 3214-8670. É indispensável levar o RG. O horário de atendimento de 2.ª a 5.ª feira é das 08 às 12 horas e das 14 às 16 horas. Na 6.ª Feira somente das 08 às 12 horas.

Hemocentro de Alegrete

Rua General Sampaio, 10 – Bairro Canudos – (55) 3426-4127 – Como fazer: somente são realizadas na primeira semana de cada mês. Basta levar qualquer documento com foto. O horário de atendimento é das 08 às 14h.

Hemocentro de Caxias do Sul

Rua Ernesto Alves, 2.260 – Centro – (54) 3214.2223. Como fazer: basta levar RG, de segunda a sexta-feira, das 08 às 18 horas.

Hemocentro de Cruz Alta – Rua Barão do Rio Branco, 1.445 (fundos do Posto Central de Saúde) –

(55) 3326-3168. Como fazer: para doar basta levar CPF,

de segunda a sexta-feira, das 07 às 19 horas.

Hemopasso – Hemocentro Regional de Passo Fundo – Rua 7 de Setembro, 1.055 – (54) 3317-2185 / 3311-5555 Como fazer: para doar basta levar RG, de segunda a sexta-feira, das 07 às 18h30min.

Hemocentro Regional de Pelotas

Av. Bento Gonçalves, 4.569, (53) 3222-3002. Como fazer: basta levar RG, de segunda a sexta-feira, das 08 às 18 horas.

Hemocentro Regional de Santa Rosa

Rua Boa Vista, 401 – Centro – (55) 3513-0612. Como fazer: É preciso levar RG, de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 11 horas e das 13h30min às 17 horas.

Hemocentro Regional de Palmeira das Missões

Avenida Nassib Nassif, 381 – Loteamento Cezar (55) 3742-5676. Obs: Previsão de estar realizando estes serviços até o final de março de 2009.

As coletas serão realizadas de segunda à sexta-feira, somente pela manhã, das 08 às 11 horas.

Hemocentro Regional de Santa Maria

Alameda Santiago do Chile, 35 – Bairro Nossa Senhora de Lurdes – (55) 3221-5262. Obs: Previsão de estar realizando estes serviços até o final de 2009.