Eduardo Campos: ComeAi??o de 2013 serA? decisivo para Dilma

Dec 19 2012
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Eduardo Campos acha que presidente precisa arrumar logo o PaAi??s, se quiser se reeleger sem sustos. Foto: DivulgaAi??A?o


Grande vitorioso das eleiAi??Ai??es de outubro, o governador pernambucano Eduardo Campos – aos 47 anos, pai de quatro filhos, neto de um Ai??cone das esquerdas, Miguel Arraes – vive um momento desafiador. Pills Seu PSB, que ele preside desde 2005, acaba de eleger 444 prefeitos – mais que todos os rivais. Seu candidato derrotou o de Lula no Recife – um tradicional quintal do ex-presidente. Seu nome jA? Ai?? citado como presidenciA?vel para 2014. Seu dilema Ai?? como seguir crescendo e, ao mesmo tempo, preservar as alianAi??as e sua antiga amizade com Lula e com a presidente Dilma Rousseff. Qual o ponto de equilAi??brio?


ai???Os 90 dias iniciais de 2013 serA?o decisivos para o governo Dilmaai???, disse ele Ai?? coluna numa longa conversa em SA?o Paulo, na semana passada. ai???Se ela ganhar 2013, 2014 jA? comeAi??a praticamente resolvido, sem sobressaltosai???. Mas ele adverte: a pauta da microeconomia ai???jA? estA? esgotadaai???. O Estado ai???nA?o pode dar um cavalo de pau nas regrasai???. O consumo ai???nA?o terA? a mesma importA?ncia dos A?ltimos seis anosai???. E Ai?? preciso conquistar o empresariado para um projeto de crescimento – coisa que a presidente Dilma tem de fazer ai???com atitudes e palavrasai???. Confira a seguir a entrevista realizada pelas jornalistas Sonia osteopenia fosamax treatment Racy e Gabriel Manzano de O Estado de S. Paulo.

EstadA?o: Como o sr. vA? hoje a economia mundial e, nesse contexto, o Brasil?

Eduardo Campos: Estamos vivendo um ciclo que soma uma crise econA?mica, uma crise ambiental e uma crise de valores. Vai durar alguns anos e nela o Brasil tem uma grande chance de se reposicionar, de maneira mais competitiva. Esse Ai?? o debate que nos anima.

EstadA?o: HA? um excesso de liquidez no mundo, que nA?o vem para cA?, e dA?vidas sobre os rumos do capitalismo. HA? um modelo para sair da crise?

Eduardo Campos: Acho que nA?o hA? nada definido. Mas Ai?? A?bvio que vamos viver um novo ciclo, a partir de novos valores. O sistema financeiro terA? maior regulaAi??A?o. NA?o aqui, onde estA? ajustado. A sustentabilidade esta posta: Ai?? fundamental. HaverA? um profundo debate sobre seguridade e saA?de. Temos de encontrar formas de as pessoas precisarem menos de redes de assistA?ncia. Esse Ai?? um debate que as lideranAi??as responsA?veis vA?o ter de fazer.

EstadA?o: Com mais Estado ou menos Estado?

Eduardo Campos: Com o Estado necessA?rio. Veja, quando a banca quebrou, em 2008, tivemos mais Estado… Mas o Estado nA?o pode mudar as regras, nA?o pode haver cavalo de pau em regras, elas tA?m de ser cumpridas. Precisamos de um Estado que funcione, nA?o entregue Ai??s elites nem ao corporativismo.

EstadA?o: Como o Estado pode ter papel decisivo se nossa poupanAi??a interna continua baixa? Ela estA? hoje, dizem, em 19% do PIB. O Peru tem 30%, o Chile 27%…

Eduardo Campos: Temos de estimular outros mecanismos de financiar a infraestrutura a longo prazo, estimular as PPPs, concessAi??es onde puder haver concessAi??es, financiA?-las nA?o sA? atravAi??s de bancos pA?blicos. Temos de nos tornar uma aposta para quem tem dinheiro. O Brasil estA? hoje perdendo esse foco de investimento externo porque hA? uma sensaAi??A?o de que existe controle excessivo do lucro.

EstadA?o: O sr. disse recentemente que o PaAi??s precisa de um novo consenso. O que seria exatamente?

Eduardo Campos: A formaAi??A?o polAi??tico-ideolA?gica da presidente todos nA?s conhecemos. Acho que ela Ai?? uma mulher corajosa, sAi??ria, tem espAi??rito pA?blico. Mas sabe-se que, na polAi??tica e na economia, muitas vezes a versA?o Ai?? mais forte que o fato. E o fato Ai?? que houve uma sAi??rie de providA?ncias. NA?o hA? polA?mica a respeito de reduzir juros, reduzir conta de energia, aumentar as concessAi??es. Outro fato Ai?? que a presidente acelerou o conteA?do dessa pauta em funAi??A?o da prA?pria crise. Em 2011 houve, a meu ver, um freio maior do que o que deveria ter sido dado, por temor do processo inflacionA?rio. E hA? tambAi??m o fato de a crise ter sido enfrentada a um sA? tempo e com menos diA?logo, menos discussA?o do que deveria, talvez pela pressa, pela quantidade de assuntos ou por falta de iniciativa do governo e falta de iniciativa dos empresA?rios. A versA?o que comeAi??a a cravar neste final de ano Ai?? mais dura que o fato, como se nA?o houvesse seguranAi??a para investir. Ai?? algo que a gente precisa rapidamente esclarecer.

EstadA?o: Como a presidente Dilma faria esse esclarecimento?

Eduardo Campos: Com atitudes e palavras. Tem marcos que se quer melhorar, como o dos portos, que vai mudar mas nA?o a regra para quem jA? tem contrato.

EstadA?o: Como vA? a economia nos prA?ximos dois anos? O MinistAi??rio da Fazenda tem formulador para tempos de crise?

Eduardo Campos: Para quem tem mandato construAi??do em 2010, Ai?? o biA?nio das entregas. Os dois primeiros anos sA?o de montagem da equipe, de plantar os programas. Os dois finais sA?o de cobranAi??a, mais duros. Acho que a Fazenda repetiu uma sAi??rie de medidas que hA? mais de 20 anos vA?m sendo tomadas sempre que hA? baixo crescimento e agora se percebeu que outras medidas sA?o necessA?rias para um crescimento que vA?, em 2013, acima dos 3%. As previsAi??es de receita que a Fazenda faz para municAi??pios e Estados estA?o inteiramente fora do repasse dos tributos da UniA?o. ComeAi??aram o ano dizendo que era 14% e vai terminar com menos 2%. Ai?? A?bvio que uma previsA?o como essa deixa os parceiros em sobressalto.

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EstadA?o: O governo FHC estabilizou, o governo Lula distribuiu renda. De Dilma esperava-se o crescimento. Seria necessA?ria alguma medida diferente, como uma ai???URV do crescimentoai???, e nA?o a repetiAi??A?o de antigas medidas?

Eduardo Campos: A pauta negligenciada da microeconomia jA? estA? esgotada. O consumo teve um papel importante, mas nA?o terA? mais a expressA?o dos A?ltimos seis anos. Precisa aumentar a competitividade com educaAi??A?o, com inovaAi??A?o, com infraestrutura. Ai?? hora de uma grave e importante aposta no crescimento, e para fazer isso Ai?? preciso, de um lado, garantir as regras para a iniciativa privada. Estamos falando de setores essenciais para formaAi??A?o bruta de capital do PaAi??s, petrA?leo, comunicaAi??A?o, energia, telecomunicaAi??Ai??es, portos, aeroportos. Ai?? uma tarefa de todos nA?s, e nA?o podemos alimentar sobressaltos sobre isso. De outro lado, temos de garantir que a poupanAi??a externa possa alavancar esses investimentos. A gente tem de encontrar mecanismos que outras naAi??Ai??es encontraram. Veja os nA?meros: os Estados sA?o hoje os primeiros investidores, os municAi??pios os segundos e a UniA?o o terceiro. De um lado precisa capacitar a mA?quina publica, para que seja dirigida por quem tenha tanta qualidade quanto hA? nos A?rgA?os de controle. Temos de preparar, mas tambAi??m desconcentrar. Se temos de ganhar em 2013 e 2014, precisamos descentralizar os recursos dos investimentos.

EstadA?o: EntA?o o sr. concorda com as queixas e o movimento de protesto dos outros governadores.

Eduardo Campos: Ai?? claro. Antes mesmo de uma reforma de tributos, as pactuaAi??Ai??es jA? existentes entre UniA?o, Estados e municAi??pios precisam ocorrer de forma mais acelerada. Tem de ter ferramentas inovadoras, coisas mais inteligentes para que o investimento aconteAi??a. SerA? que nA?o precisamos, agora, de uma desoneraAi??A?o linear na carga tributA?ria brasileira, para que todos pudessem ser impactados?

EstadA?o: Seu avA? paterno, Fernando Campos, era um usineiro conservador e o materno, Miguel Arraes, um socialista. Como isso se juntou em sua visA?o do mundo?

Eduardo Campos: Na moderaAi??A?o. Tive relaAi??A?o prA?xima com os dois, eram pessoas diferentes que no final passaram a se conhecer e a se respeitar, conviver. Convivi com posiAi??Ai??es opostas e respeitA?-las me fez valorizar o pensamento dos outros. Aprendi com os dois.

EstadA?o: E se tornou um moderador.

Eduardo Campos: Admirava os dois no que eu podia admirar. Um que lutou para fazer seu patrimA?nio, dar conta de suas responsabilidades, com uma visA?o polAi??tica que nA?o era a minha. E o outro com cujo pensamento eu tinha completa sinergia, o sonho de consertar um bocado de coisa errada que tem no mundo.

EstadA?o: O sr. acaba de desbancar o lulismo na terra de Lula, lanAi??ou um candidato novo e venceu. Criou-se agora uma nova paisagem polAi??tica em Pernambuco, em que o PT perde a lideranAi??a?

Eduardo Campos: A leitura da eleiAi??A?o Ai?? que o PSB teve um crescimento acima atAi?? do que a gente esperava. Esse crescimento vem ocorrendo em eleiAi??Ai??es repetidas. Fizemos um planejamento estratAi??gico para crescer nA?o sA? no Norte e Nordeste, mas em todo o Brasil. Crescer em grandes cidades para animar o ingresso na polAi??tica de novos quadros.

EstadA?o: Confrontar o PT foi uma decisA?o pensada? AtAi?? onde o PSB quer chegar?

Eduardo Campos: No Recife, como em Fortaleza, o pensamento inicial nA?o era ter candidato, tAi??nhamos uma alianAi??a jA? de 12 anos no Recife, mas o PT sofreu desgaste de uma disputa interminA?vel. NA?o se trata de desbancar o Lula, de forma alguma. As pessoas queriam paz, trabalho e resultado. Perceberam que nosso candidato falava de maneira adequada, tinha experiA?ncia e tinha nosso apoio. Acho que ele vai surpreender positivamente, vai criar um novo paradigma de como deve ser um prefeito.

EstadA?o: O presidencialismo de coalizA?o, obrigando a tantos acordos para obter votos no Congresso, nA?o atrapalha os projetos do governo?

Eduardo Campos: JA? fui do Congresso e do governo, estive nos dois lados. Acho que onde hA? democracia tem de haver dialogo. O problema do Brasil nA?o Ai?? esse, Ai?? a agenda econA?mica e a social. A gente, Ai?? claro, tem de fazer a reforma polAi??tica, a possAi??vel, e com tempo. Ai?? necessA?rio fazer eleiAi??A?o no mesmo ano, por exemplo. Isso obrigarA? os polAi??ticos com cabeAi??a municipal a ficar nos municAi??pios, os estaduais nos Estados e os que pensam nacionalmente em BrasAi??lia. As eleiAi??Ai??es descasadas super-eleitoralizam o debate polAi??tico. A eleiAi??A?o a cada dois anos interrompe convA?nios e programas por todo lado. NA?o hA? longo prazo.

EstadA?o: Quais os prA?ximos passos do PSB, depois das vitA?rias de outubro?

Eduardo Campos: O cenA?rio de 2014 vai depender muito do que acontecer em 2013. Acho que nossa tarefa, enquanto base de sustentaAi??A?o da presidente Dilma, Ai?? ajudA?-la a ganhar o ano de 2013, o que serA? bom para o Brasil e para ela. Se ela ganha 2013, 2014 jA? comeAi??a praticamente resolvido. Ai?? isso, o desenho de 2014 tem relaAi??A?o direta com o que ocorrer no ano que vem. AAi?? a reeleiAi??A?o serA? de um governo aprovado, coisa quase natural, sem sobressalto.

EstadA?o: E se ela nA?o ganhar 2013? Se em dezembro prA?ximo estiver como agora, por exemplo?

Eduardo Campos: NA?o vamos jogar a toalha, o ano sequer comeAi??ou. Ai?? preciso ai???ir pra cimaai???, nossa parte Ai?? ajudar e a do governo Ai?? dizer como nA?s podemos ajudar. Poderemos dar ideias?

EstadA?o: Isso exige um bom diA?logo. E o de agora, como o sr. assinalou, nA?o Ai?? o ideal.

Eduardo Campos: A gente tem de ter objetividade. Os 90 dias iniciais do ano que vem serA?o decisivos para 2014. Ai?? preciso desfazer essa impressA?o sobre as mexidas feitas, mostrar que o sentimento do governo nA?o Ai?? intervencionista. Se nA?o deixar isso claro, essa impressA?o de agora vai atrapalhar 2013. NA?s podemos ajudar, mas quem pode zerar isso Ai?? exatamente o governo, Ai?? a presidente.

EstadA?o: Os programas sociais melhoram a vida dos desassistidos mas o drama da economia hoje Ai?? a falta de mA?o de obra qualificada. Como resolver esse desafio?

Eduardo Campos: Os programas sociais sA?o da agenda do sAi??culo 20, transformaram-se em programas enormes porque o fosso social que se criou no PaAi??s levou a isso. Mas nA?o podemos achar que Ai?? a agenda do sAi??culo 21. O ai???Bolsa-FamAi??lia do sAi??culo 21ai??? Ai?? creche para todas as crianAi??as, educaAi??A?o infantil de qualidade, educaAi??A?o em tempo integral para os filhos dos mais pobres. Ai?? emancipar as futuras geraAi??Ai??es, para pA?r fim Ai?? necessidade dessas bolsas compensatA?rias. Se uma crianAi??a tiver uma educaAi??A?o de primeira infA?ncia de qualidade, acesso a ensino integral, nA?o vai precisar de bolsa nenhuma.

Sonia Racy e Gabriel Manzano

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