Marlon e Uergs não falam a mesma língua

Apr 12 2007
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Jornal do Povo – Cachoeira do Sul, 12/04/2007

Prefeito espera resolver impasse do centro regional diretamente com o novo reitor

Giuliano Fernandes

O futuro da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) em Cachoeira está ameaçado. Desde setembro do ano passado, a relação entre a Prefeitura e o comando da instituição não anda bem. O primeiro impasse surgiu com a ausência de garantias que a Prefeitura cobrou em troca do investimento de R$ 3 milhões no projeto do centro regional da Uergs/Cachoeira. Marlon ainda não conseguiu chegar ao novo reitor, Carlos Alberto Callegaro, que também parece estar evitando conceder entrevistas ao Jornal do Povo. Há duas semanas a reportagem do JP tenta ouvir do novo reitor os planos que o Governo Yeda Crusius tem para a Uergs.

O engenheiro Milton Costa, do departamento de planejamento da Uergs, disse ontem que a instituição quer apenas que a Prefeitura cumpra a promessa de investir R$ 3 milhões no sistema para consolidar Cachoeira do Sul como centro regional. Do outro lado, o prefeito Marlon Santos continua a cobrar um plano de ampliação da universidade e também quer a licença para iniciar imediatamente a reforma no terceiro andar do prédio, garantindo a realização do próximo vestibular e a abertura de novas turmas. O diretor do centro regional da Uergs, Ricardo Rabenschlag, disse ontem que estranha o impasse em razão de ninguém ter lhe procurado para tratar do assunto.

OFENSAS – Com os ânimos exaltados, representantes da Prefeitura e da Uergs expuseram ontem ainda mais a crise. Calote, golpe, falcatrua, estelionato, farsa e abobado foram algumas das palavras usadas nos ataques de ambas as partes. Segundo Milton Costa, da Uergs, o diálogo com a Prefeitura só será reaberto quando as intenções do Município forem colocadas no papel e assinadas em um convênio. "Não somos crianças. O prefeito parece que só quer criar factóides e fazer o auê. De conversa nós já estamos cheios", desabafou Milton Costa. O prefeito Marlon Santos disse que não vai discutir com índios e que este assunto é para ser acertado entre os caciques.

Importante

A briga sobre o destino da Uergs em Cachoeira do Sul pode ser considerada passional, pois envolve figuras apaixonadas pela causa. Na linha de frente das discussões, pelo lado da Prefeitura, está o chefe de gabinete do prefeito, Gildásio Bitencourte, que lutou pela implantação da Uergs desde as assembléias do Orçamento Participativo, quando ainda militava no PT do Governo Olívio Dutra. O prefeito Marlon Santos mostrou que brigará até o fim pela Uergs quando reservou no orçamento do Município R$ 3 milhões para a universidade. O dinheiro ainda está previsto. Milton Costa, da Uergs, tem laços familiares em Cachoeira e foi quem idealizou a saída da universidade de duas salas do Ciep Virgilino Jayme Zinn (Bairro Quinta da Boa Vista) para a Casa do Trabalhador.

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MEMÓRIA

Em 25 de setembro do ano passado, a Prefeitura mandou um documento para a Uergs pedindo autorização para reformar o terceiro andar do prédio para garantir novas salas e a ampliação no número de alunos. Segundo Gildásio Bitencourte, até hoje nenhuma resposta foi dada. O diretor regional da Uergs, Ricardo Rabenschlag, disse ontem que a Prefeitura não precisa de autorização da universidade, pois o prefeito ainda não mandou para a Câmara de Vereadores o projeto pedindo autorização para aplicar os recursos na instituição.

PARA SABER MAIS  

O que está acontecendo entre Uergs e Prefeitura
> Em 2005, as prefeituras de Cachoeira do Sul e Santa Cruz do Sul disputaram quem ficaria com o centro regional da Uergs. Uma espécie de leilão para ver quem daria mais dinheiro foi encerrado em junho do mesmo ano, quando Marlon se comprometeu em investir R$ 2.999.786,00, criando ainda o Centro de Treinamento em Agroindústria, aproveitando a estrutura do extinto Patronato Agrícola, de 126 hectares.

> Em 2006, muita discussão e pouca evolução no processo de implantação do centro regional. O título deveria garantir para a unidade de Cachoeira do Sul o comando da instituição em uma das sete regiões que concentram 24 campi. O período eleitoral deixou a situação ainda mais delicada.

> Em 23 de agosto do ano passado, a Prefeitura concluiu o projeto que seria encaminhado para a Câmara de Vereadores para investir na Uergs. A papelada foi arquivada em razão das incertezas eleitorais.

> Com a derrota de Germano Rigotto no Governo do Estado, o destino da Uergs ainda permanece incerto. No último dia 30, uma comitiva de cachoeirenses foi até a sede da universidade, em Porto Alegre, para dar andamento ao projeto de centro regional. Reafirmadas as intenções, um dos representantes da Uergs alertou Gildásio Bitencourte, chefe de gabinete da Prefeitura, que o plano de ampliação da universidade precisaria ser revisto, pois a instituição estava com os cofres raspados, sem condições de honrar compromissos e implantar novos cursos. As negociações ficaram abertas, com planos de promover uma reunião entre Marlon e o novo reitor para acertar das diferenças.

> Ontem, um representante da Uergs ligou para o procurador jurídico do Município, Júlio Mahfus, para transmitir um recado. A informação é de que um relatório será montado sobre a situação da Uergs/Cachoeira do Sul e que será o reitor da Uergs quem decidirá sobre a confirmação ou não do centro regional. A notícia causou indignação na Prefeitura. O prefeito Marlon chegou a declarar que a "Uergs é uma farsa do jeito com que está sendo levada. A Prefeitura seria vítima de um golpe, até hoje eles não definiram o que vai ser feito da universidade. A discussão criada é uma cortina de fumaça. A Uergs precisa ser remodelada para que a sociedade não perca o que já foi feito".

> Para agravar a crise, no início deste ano, a Prefeitura pediu a manutenção da parceria de cedência de salas de aula da Uergs, onde o Município desenvolveria cursos do projeto Ciesc B. Segundo Gildásio Bitencourte, a resposta do diretor Ricardo Rabenschlag para alunos e outros funcionários foi de que a universidade não iria emprestar as salas porque a Prefeitura tinha dado um calote na instituição.