Situação dos cinemas do interior do Estado do Rio Grande do Sul

Mar 13 2007
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[13/03/2007]O deputado Beto Albuquerque (PSB/RS) pronuncia o seguinte discurso. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, distintos brasileiros e brasileiras que nos acompanham pela TV Câmara, trago hoje a esta casa um assunto referente a área cultural, que é a situação difícil que viveram em 2006 as casas brasileiras de cinema, muito especialmente aquelas localizadas em municípios do interior. Conforme matéria no jornal Folha de São Paulo, de 17 de janeiro deste ano, o brasileiro foi menos ao cinema em 2006. A diminuição em relação a 2005 foi de 3% no público, segundo o portal voltado ao mercado de cinema Filme B, e de 4,9% para o Sindicato dos Distribuidores do Rio de Janeiro. Nas duas contagens, o público foi pouco superior a 90 milhões. O certo é que o público caiu, em dissonância com a maioria dos países, onde as bilheterias se recuperam.

Os distribuidores vêm lançando filmes com poucas cópias, o que deixa os cinemas carentes. Exemplo disso temos na estréia do filme "Babel", com a participação de Brad Pitt, indicado ao Oscar 2007 em sete categorias sendo escolhido a melhor trilha sonora, que segundo nos informou o Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas do RS, foi lançado com apenas 81 cópias para o Brasil inteiro. Outra, pior, o filme “Apocalypto”, também indicado ao Oscar 2007 em três categorias e dirigido por Mel Gibson, foi lançado com 48 cópias no país.

De fato, em 2006, pela primeira vez em sete anos, o número de salas de cinema no Brasil diminuiu em vez de aumentar. A expansão foi exclusivamente em shoppings, segundo a Agência Nacional do Cinema, que registrou até setembro, o fechamento de 30 salas em locais variados e a abertura de 40, todas em shoppings.

A concentração das salas brasileiras em shoppings de regiões de alto poder aquisitivo tem reflexo também no aumento do preço médio do ingresso (de 7% de 2005 para 2006) e explica o fato de a renda haver aumentado (3,2%, segundo o Filme B), embora o público tenha caído. Isso mostra que foram abertas salas em regiões elitizadas e fechadas em áreas populares.

Por outro lado, a comodidade do DVD e da TV, com custo individual muito inferior, já que a locação de um filme pode servir a toda a família de uma só vez, contribui para o abandono dos cinemas. Ainda mais com a facilidade que há hoje para baixar filmes pela Internet, muitas vezes antes mesmo de o título chegar ao cinema. Nesse caso, sai praticamente de graça, ainda que de forma ilegal.

No Rio Grande do Sul, segundo o Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas do Estado, os cinemas enfrentam a menor ocupação dos últimos anos. Apenas 36 municípios gaúchos têm salas de cinema. São 7% dos 496 municípios do Estado. Das 136 salas em funcionamento, 56 delas estão concentradas na Capital e outras 23 em oito municípios da Região Metropolitana. Sobram 57 salas em 29 cidades do interior. A especulação imobiliária contribui neste sentido, já que um bingo ou uma igreja são bem mais lucrativos do que uma sala de cinema no interior do estado.

É preciso uma política de coerência para a exibição de filmes no país que trate as cidades com até 150 mil habitantes de forma diferenciada. No tripé produção, distribuição e exibição, apenas os dois primeiros vértices são beneficiados com incentivos fiscais, enquanto as salas de cinema arcam com ônus, como a exibição obrigatória de filmes brasileiros (cota de tela) e a meia-entrada, que se expandiu exponencialmente nos últimos cinco anos.

Desta forma, se quisermos salvar os cinemas do interior do nosso país, precisamos discutir e implementar rapidamente políticas públicas que contemplem medidas como estímulos fiscais, seja na esfera federal (Imposto Simples), municipal (ISS e IPTU) ou mesmo na taxa de pagamento junto ao ECAD; abertura de créditos acessíveis com o objetivo de reformar as salas existentes e abertura de novos cinemas, mas principalmente incentivar às distribuidoras a produzirem mais cópias dos seus lançamentos, a fim de que esses filmes não demorem tanto tempo a chegar nas cidades distantes.

Atualmente, variedade cinematográfica nunca chega a ser opção no interior. Geralmente restrito a uma única sala de cinema na cidade, o público tem de conviver uma, duas ou até três semanas com o mesmo filme em exibição. Como a cada semana entram vários lançamentos no circuito, não há como ficar atualizado.

Seguir incentivando a produção de filmes nacionais é importante, mas com o entendimento de que são os filmes estrangeiros, especialmente os americanos, que mantém os nossos cinemas. Por isso, é preciso adequar a cota de tela nacional à realidade dessas pequenas cidades.

Senhores deputados, é preciso fazer algo com urgência, pois a seguir como está, os cinemas vão sumir das pequenas cidades.

Neste sentido, estou sugerindo, através de ofício, ao Presidente da Ancine, Manoel Rangel, que acompanhe de perto esta situação dos cinemas do interior; reforçando a solicitação do vereador André Kryszczun, do PSB de Santo Ângelo, para que visite seu município com o objetivo de verificar in loco, a partir do exemplo da maior tela de cinema do interior gaúcho, a difícil realidade por eles enfrentada. O vereador Kryszczun ainda esteve reunido recentemente, juntamente do Senador Paulo Paim, com o Presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas, Ricardo Defini Leite e com o Diretor do Cine Cisne de Santo Ângelo, Flavio Panzenhagem, há tempo grande lutador dessa causa, no sentido de buscar soluções para esse importante seguimento cultural. Precisamos que a Ancine ajude a encontrar uma saída para garantir acesso à magia da 7ª arte em todos os lugares do Brasil, como forma de inclusão cultural.

Está nas nossas decisões a possibilidade de criarmos mecanismos e tomarmos atitudes concretas para a sobrevivência e o crescimento da cinematografia nacional! Muito obrigado.

Deputado Beto Albuquerque (PSB/RS)